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Patinete elétrica e bike soltinha na rua: Testamos os novos serviços em SP

Bicicleta da Yellow em uso - Divulgação
Bicicleta da Yellow em uso Imagem: Divulgação

Lilian Sobral

Colaboração para o Urban Taste, em São Paulo

29/08/2018 04h00

Se você costuma andar pela região central de São Paulo, ou pela Avenida Paulista, provavelmente viu gente circulando com um equipamento que poderia ter saído de um episódio de "Os Jetsons". Ou, quem sabe, talvez tenha dado de cara com algumas bicicletas amarelas espalhadas pela cidade, sem dono, sem estação e sem corrente.

As cenas te pareceram familiares? Pois ficarão cada vez mais. Elas fazem parte de dois serviços compartilhados de mobilidade urbana que começaram a tomar conta das ruas da capital paulista (e devem chegar em breve a outras cidades).

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Um deles é o Scoo, que está testando o aluguel de patinetes elétricas. O outro é a Yellow, bike compartilhada tipo aquelas de serviços já oferecidos por bancos, mas sem estações fixas. Chama atenção, não é? Também fiquei curiosa e resolvi dar um rolê para testar os serviços.

Uma solução futurista para a grande metrópole?

Tenho que confessar: nunca achei que fosse ser uma das primeiras pessoas a fazer qualquer coisa numa cidade de mais de 12 milhões de habitantes. Mas foi bem esse o caso com a Scoo, patinete elétrica compartilhada que está em fase de testes. Por enquanto, apenas usuários beta estão testando o serviço compartilhado (e é possível se cadastrar para ser um no site da empresa). Um aplicativo previsto para estrear dia 3 de setembro deve levar a novidade para mais gente. Fui uma dessas "testadoras" e, numa terça-feira ensolarada, pude dar uma volta com o equipamento.

Patinetes da Scoo - Divulgação - Divulgação
Patinetes da Scoo
Imagem: Divulgação

Capacete colocado (aliás, ele será emprestado pela própria empresa), hora de começar a aventura. Minha experiência com patinete estava restrita à minha infância. Elétrica, então? Nunca usei. Mas recebi uma boa orientação de como fazer: escolher o pé mais confortável para colocar na frente, começar com um impulso e acionar o motor quando as rodas já estivessem girando. Parece difícil, mas é fácil.

Ao contrário das bikes compartilhadas, as estações da Scoo nunca ficam sem um funcionário, responsável por explicar tudo direitinho para estreantes como eu. Essa pessoa também cuida da manutenção, recarregando a bateria dos equipamentos e mantendo a calibragem do pneu.

Quem me contou isso foram dois dos sócios da Scoo, Maurício Duarte e Denis Lopardo. Eles também fazem parte do quadro de sócios da Seeds Capital, a empresa de investimentos que apostou no projeto. "A ideia veio da Califórnia. Estudei em Stanford e vi que era muito comum o uso da patinete elétrica para rodar por aquele campus enorme", conta Maurício.

Repórter Lilian Sobral testa a patinete elétrica da Scoo - Lilian Sobral / UOL - Lilian Sobral / UOL
Repórter Lilian Sobral testa a patinete elétrica da Scoo
Imagem: Lilian Sobral / UOL
 Entender como usar o equipamento é importante para a segurança. Mas a Scoo também vem com a velocidade limitada. Apesar de poder alcançar 30 km/h, a patinete estará ajustada para não passar de 20 km/h e, assim, ficar dentro da lei para a ciclovia. A velocidade é mais que suficiente para transitar pelas áreas centrais da cidade, especialmente em trechos mais curtos. Também aprovei o conforto do aparelho e gostei muito do freio: ABS, moderno e eficiente. Perfeito para alguém levemente medrosa como eu.

Os valores previstos para a estreia do aplicativo são convidativos. Será cobrado R$ 1 para os primeiros quatro minutos. Depois R$ 0,25 para cada minuto seguinte. Parece bastante, mas como a patinete é muito veloz, dá para percorrer uma boa distância com pouco dinheiro. É importante que o usuário faça essa conta.

A principal vantagem em relação à bike é o conforto. Não é necessário esforço físico, o que significa que você chega ao destino sem um pingo de suor.

No começo, o plano é colocar diversos pontos fixos e móveis espalhados por quatro locais da cidade: Avenida Paulista, Ibirapuera, região da Faria Lima e da Avenida Berrini. A Scoo quer alcançar mil unidades distribuídas nesses roteiros. Talvez esse seja o único ponto negativo, já que áreas periféricas ficam de fora em um primeiro momento.

A magrela de espírito livre

Hora de pedalar! Minha primeira tentativa de usar a Yellow não foi muito bem-sucedida. Estava na região da Praça Roosevelt, no centro da cidade, em um sábado e precisava chegar até a Santa Cecília. Achei ótimo começar com essa distância curta, já que sou uma ciclista inexperiente. Abri o aplicativo e vi que tinha uma bike próxima. Ele mostra onde elas estão em um mapa e, embora não forneça o endereço escrito por extenso, é bem preciso e fácil de usar. Mas chegando no ponto indicado, nada de encontrar a bike que o GPS dizia estar disponível. Infelizmente soube de casos de pessoas que estacionam as bikes em lugares fechados para usar em outros momentos do dia e suponho que isso tenha acontecido comigo.

Tentativa número dois: essa sim deu certo. Acordei num domingo e pensei: vou dar uma volta na ciclofaixa da Avenida Paulista. Moro no bairro da Pompéia e vi que tinha uma bike disponível. É só usar o celular para scanear o QR Code, e o cadeado da bike abre automaticamente.

Bicicletas Yellow - Divulgação - Divulgação
As bicicletas da Yellow não têm estações e são desbloqueadas pelo celular
Imagem: Divulgação

O projeto das bikes sem estação veio pelas mãos de três sócios que conheceram a ideia na China. Por lá, a mobilidade e as cidades lotadas também são um problema. Mas os chineses levam algumas vantagens em relação ao Brasil. "Um exemplo de diferença entre os dois produtos é que, na China, a internet é muito rápida e eficiente e tivemos que resolver essa diferença por aqui com tecnologia", diz Renato Freitas, um dos cofundadores e responsável por essa área na empresa.

Voltando para a parte prática, confesso que assim que olhei a bike, fiquei um pouco preocupada. Moro numa região de ladeiras e a bicicleta não tem marchas. Mas foi tudo bem. Tive dificuldade apenas em outro ponto da Zona Oeste, a Rua João Moura, que apesar de ter uma ciclovia, parece mais uma montanha. Nessa hora, achei melhor desmontar da bike e ir a pé até a Avenida Dr. Arnaldo. Segui minha viagem no terreno plano. Me empolguei tanto que estiquei o passeio. Foram 9 km no total. Deu para perceber algumas coisas bem interessantes na bike.

Bicicleta Yellow - Divulgação - Divulgação
O pneu maciço da bicicleta da Yellow facilita a manutenção por não precisar de bomba para calibrar
Imagem: Divulgação

Por exemplo: o quadro é baixo. Eu, do alto do meu 1.55m de altura, agradeço. Foi bem simples parar no semáforo sem desequilibrar. Como o selim ajusta bem fácil, alguém alto vai curtir também. Outra questão foi o pneu, que é maciço. Com ele, senti um leve tranco a mais ao passar por buracos maiores, porém foi tranquilo na maior parte do trajeto.

Segundo Renato Freitas, o design foi pensado especificamente para a Yellow. O pneu maciço, por exemplo, facilita a manutenção da bike, que não depende de bombinha para calibrar. Já a falta de marcha torna o uso simples para alguém inexperiente.

A parte que mais gostei foi o preço: R$ 1 a cada 15 minutos de uso. Ou seja: para trajetos rápidos, é muito mais barato (e divertido) do que usar transporte público. Poder deixar a bike solta em qualquer lugar também é ótimo! Faz com que a gente não precise planejar a rota em função de estações. Sobre o problema de bikes que são estacionadas em locais fechados ou acorrentadas por usuários, o próprio aplicativo tem um canal de denúncia.

O plano da Yellow é ousado. A empresa quer espalhar 20 mil bikes pela cidade até o fim deste ano e ter 100 mil até o final de 2019. Embora Renato não revele detalhes da expansão, a ideia é incluir até outras cidades, já que as bikes se espalham sozinhas, de acordo com o comportamento dos usuários. E, olha, isso é muito verdade. Quando terminei de escrever esse texto, abri o aplicativo, e vi que tem bike disponível até em Guarulhos. Não é lindo ver como as soluções de mobilidade ganham vida nas mãos da cidade?

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